TEOLOGIA
DO PRAZER
José
Lisboa Moreira de Oliveira, filósofo
e teólogo
Ana
Márcia Guilhermina de Jesus,
psicóloga e militante cristã
Acaba de sair pela Paulus o nosso mais recente livro.
Trata-se da Teologia do Prazer. O
tema do prazer ainda é considerado um grande tabu pela maioria dos cristãos. Embora a Bíblia judaico-cristã veja
esta questão com otimismo, a influência maniqueísta, infiltrada nas comunidades
cristãs primitivas, terminou por se impor, levando o cristianismo a ver o
prazer com bastante pessimismo. Atualmente, mesmo com os grandes avanços
provocados por fatos como o Concílio Vaticano II e as descobertas científicas,
a perspectiva ainda é bastante negativa. Nas Igrejas cristãs o tema não é
tratado explicitamente, a não ser em certas ocasiões e quase sempre para combatê-lo.
Não têm faltado esforços por
parte de algumas pessoas e por parte de alguns teólogos no sentido de
aprofundar a questão numa perspectiva mais positiva, porém quase sempre na ótica
da moral. Mas, apesar desses esforços, o prazer ainda é visto de forma muito
negativa e nunca mereceu um tratado específico de teologia. Isso levou um
franciscano, teólogo, bispo e psicólogo, Dom Valfredo Tepe, a pedir, no
finalzinho do século passado, que os teólogos pensassem numa “teologia do
prazer”.
Nós
resolvemos acolher o convite de Dom Valfredo Tepe e nos atrevemos a refletir
sobre o assunto. Depois de quase dois anos de pesquisas, leituras e estudos,
produzimos um texto que agora chega às mãos dos leitores através da Editora
Paulus. Temos consciência de que não esgotamos o assunto, mas esperamos que a
nossa iniciativa estimule outros estudiosos cristãos a aprofundarem ainda mais
a questão, ajudando suas Igrejas a reverem suas posições e a se abrirem mais à
positividade da experiência do prazer.
O
nosso estudo começa com uma análise do conceito e do sentido do prazer.
Consideramos fundamental iniciar nossa reflexão apresentando as bases científicas do prazer. Uma
teologia do prazer precisa começar com a constatação de que tal sensação ou
experiência foi colocada no ser humano pelo Criador. As ciências, de modo
particular a Psicologia e a Neurociência, ao desvendarem o mistério do prazer
nos revelaram a criatividade divina que, ao “modelar” (Sl 139,13-15) a pessoa
humana, dotou-a de tão complexo dinamismo. As ciências nos ajudam a perceber
que o prazer faz parte da natureza humana, assim como foi pensada, sonhada e
criada por Deus.
Na segunda parte do nosso
texto apresentamos o ensinamento bíblico
sobre o prazer. Não foi fácil abordar esta questão, dada a escassez de
pesquisas e publicações específicas sobre o assunto, especialmente aqui no
Brasil. As pesquisas que fizemos apontam inicialmente que há na Bíblia uma
concepção positiva do prazer, embora não faltem textos que alertam sobre o
risco de uma busca de prazer que desumaniza. Porém, a Palavra de Deus não
demoniza a experiência prazerosa. Pelo contrário, convida o ser humano a viver
prazerosamente sob a guia e proteção divinas. Para evidenciar este aspecto
positivo, antes de mencionar os prazeres humanos recomendados pela Bíblia,
falamos dos “prazeres divinos”. Algo muitas vezes inédito, já que o
cristianismo do “ascetismo mórbido” (Tepe) nos acostumou com a imagem de um
Deus sempre irado e irritado com a possibilidade de um ser humano alegre e
feliz. Somente depois de falar do prazer como algo positivo é que apresentamos
algumas indicações bíblicas acerca de um tipo de prazer que pode alienar e
desumanizar.
Após
apresentar as bases científicas do prazer e a visão bíblica sobre o tema, fazemos
uma reflexão sobre a forma como o prazer foi visto ao longo da história da Igreja. Mostramos como o
cristianismo, de seguimento prazeroso de Jesus, se transformou na religião da
abolição do prazer. E isso se deu pela incursão do dualismo grego e do
maniqueísmo maledicente nas comunidades cristãs. Além disso, refletimos sobre a
relação que se criou entre prazer, sexo e pecado, fazendo com que as Igrejas
introduzissem regras bem rígidas a este respeito, as quais passaram a funcionar
como verdadeiros “quebra-molas” que visam frear o gozo e o prazer. Depois
dessas observações mostramos que, em toda essa história, a mulher pagou um preço amargo, uma vez que ela foi considerada o
símbolo do prazer degenerado. Afirmamos que todas essas coisas transformaram o
cristianismo em uma experiência triste e assustadora e que precisamos continuar
vigilantes, uma vez que no atual contexto estão retornando formas cristãs
dualistas e maniqueístas.
No
último capítulo do livro apresentamos algumas afirmações teológicas acerca de uma vida cristã prazerosa.
Insistimos na necessidade de vermos o prazer como uma realidade plenamente
divina e plenamente humana e, de consequência, olharmos para o cristianismo
como mística prazerosa. Mas para que isso aconteça será indispensável repensar
a relação entre seguimento de Jesus, prazer e ascese. Embora parte essencial do
discipulado, a ascese precisa ser revista, de tal modo que não tire do
cristianismo a sua dimensão gozosa. Isso significa que a vivência cristã do
prazer inclui um processo de discernimento e uma educação para a
responsabilidade, de modo que se possa falar de uma vida prazerosa ecologicamente correta, entendo por
ecológico um estilo de existência que humanize sempre e cada vez mais.
O
nosso estudo se conclui com uma reflexão acerca da necessidade de que as
Igrejas renunciem à pretensão de querer controlar, a todo custo, a vida das
pessoas. Elas precisam mudar de pedagogia, uma vez que a atual pedagogia do
controle e da imposição não funcionou e terminou por lançar os fiéis nas mãos
da “indústria do prazer”.
O
nosso texto destina-se a todos os cristãos e a todas as cristãs de todas as
Igrejas, sem exceção, e que queiram aprofundar essa temática tão vital e tão
marcante para a vida humana. Destina-se também a todos os homens e a todas as
mulheres de boa vontade que, embora não professem a fé cristã, desejam ter uma
compreensão mais positiva do tema do prazer na perspectiva do cristianismo.
Mesmo consciente de que não exaurimos a temática proposta, optamos por manter o
simples título “Teologia do Prazer”, sem mais substantivos ou adjetivos
qualificativos. Com isso queremos ressaltar o caráter teológico do tema, diante de todo o desgaste a que foi submetida a
questão do prazer dentro do cristianismo e ao longo do séculos.
Fazemos
votos de que este livro toque o coração de muitas pessoas, desperte-nos para a
beleza do prazer, estimule em todos nós uma vida prazerosa responsável e
solidária, e suscite em muitas outras pessoas o desejo e a vontade de
aprofundar ainda mais esta temática tão bonita e profundamente cristã. E se
você estiver de acordo com isso, adquira o livro, estude-o e divulgue-o entre
os seus amigos e amigas. Obrigado!
É com grande prazer que recebo a notícia da publicação desse livro, e bem no Tempo Pascal, que é tempo de experimentar o imenso prazer da Ressurreição. Imagino que a salvação, a vida eterna, nada mais seja do que o infinito prazer da comunhão plena com Deus, os irmãos e irmãs e o universo. E tudo isso já começa aqui na Terra. Sim, estou ansioso pela leitura desse livro e espero presentear amigos próximos com o mesmo. Obrigado aos autores por tão importante serviço.
ResponderExcluirFernando.
Taguatinga - DF